Vozes do mar, das árvores, do vento!
Quando, às vezes, num sonho doloroso,
me embala o vosso canto poderoso,
eu julgo igual ao meu vosso tormento…
.
Verbo crepuscular e íntimo alento
das coisas mudas, salmo misterioso,
não serás tu, queixume vaporoso,
o suspiro do mundo e o seu lamento?
.
Um espírito habita a imensidade:
uma ânsia cruel de liberdade
agita e abala as formas fugitivas.
.
E eu compreendo a vossa língua estranha
vozes do mar, da selva, da montanha…
Almas irmãs da minha, almas cativas!
Antero de Quental