Deito na terra os grãos de sonho
peço-te que os fragmentes
como uma bomba dentro do meu peito.
Assim, sei que te poderei esquecer…
como uma imagem difusa na mente cansada,
ou um aroma indecifrável
adormecido nas mãos enrugadas
de uma espera dorida e milenar.
.
Estou envolvida por esse silêncio dormente
que abre as portas à madrugada
e me encosta dentro dessa cama
cujo saco amarfanho
com os dedos quebrados de tentativas falhadas,
no desespero da insónia.
.
Abraço o vazio com a força do frio
percorre-me o avesso do ser,
lambo as gotas que fervilham na pele despida
e os grãos são sementes por fecundar…
O teu corpo é estéril.
Já não me estremece nem abre os segredos da noite
onde fomos gemido e respiração ofegante.
.
Fechei a concha.
Voei para sul com sonhos na bagagem.
nesse mundo com outros mundos onde só eu pertenço
e onde nós já não temos espaço.
Carla Marques