O calendário ardente dos teus dias
a lista das tuas agonias
como se atreve
como não ousa serenar
serenar-te
no ímpeto fugidio e secreto
o sorriso
e a alta gravidade do estilo
Ana Hatherly em Um calculador de Improbabilidades
O calendário ardente dos teus dias
a lista das tuas agonias
como se atreve
como não ousa serenar
serenar-te
no ímpeto fugidio e secreto
o sorriso
e a alta gravidade do estilo
Ana Hatherly em Um calculador de Improbabilidades
Se por vinte anos, nesta furna escura,
deixei dormir a minha maldição,
– hoje, velha e cansada da amargura,
minh’alma se abrirá como um vulcão.
E, em torrentes de cólera e loucura,
sobre a tua cabeça ferverão
vinte anos de silêncio e de tortura,
vinte anos de agonia e solidão…
Maldita sejas pelo Ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!
Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!…
Olavo Bilac em “Poesias”
Todo o tempo é de poesia,
desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.
Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia
todo o tempo é de poesia.
Entre bombas que deflagram,
corolas que se desdobram,
corpos que em sangue soçobram,
vidas que a amar se consagram.
Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.
Todo o tempo é de poesia.
Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.