Pelo rio do meu corpo
o barco à vela dos teus olhos.
…
O beijo amadurece.
…
Que fazer
das palavras que sobram?
Rosa Lobato de Faria
Pelo rio do meu corpo
o barco à vela dos teus olhos.
…
O beijo amadurece.
…
Que fazer
das palavras que sobram?
Rosa Lobato de Faria
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Ninguém, meu amor,
ninguém como nós conhece o sol.
Podem utilizá-lo nos espelhos,
apagar com ele
os barcos de papel nos nossos lagos,
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas,
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado.
.
Mas ninguém, meu amor,
ninguém como nós conhece o sol.
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos.
Sebastião da Gama
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quero falar aqui do meu amor, quero falar
quando o silêncio é de oiro ensimesmado,
o tempo é de ferrugem,
e o espaço é de água na longa solidão
riscada pelas aves.
.
pobre relento dos sonhos que sonhámos:
passámos por aqui, os olhos rasos de luz
e o coração embalado por um fio de música
a diluir-se no crepúsculo
com as águas morosas, a
.
sombra a carregar-se ao rés das casas, as
rosas semicerrando-se numa leve respiração.
águas do douro que corriam, para onde
levavam as lembranças como barcos
que se esquecessem do seu rumo?
.
leve brisa do mar que nos chegava,
salina sem sabermos
que anunciava as lágrimas, de que fundo
dos mares atormentados arrancava?
cais humilde das cargas, quem diria
.
que ali só atracavam desventuras?
ali, só quero falar desta golfada a desprender-se
de sonho e oiro a que te misturavas
num ledo encantamento entre rumores
que se apagavam fulvos em surdina
.
e sílabas, sílabas que na alma a pouco e pouco
emudeciam comovidas, noite, ó noite
que cobriste essas horas do teu luto,
quando será manhã para que seja
outra tarde outra vez essa harmonia?
Vasco Graça Moura
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A tua nudez inquieta-me.
Há dias em que a tua nudez
é como um barco subitamente entrado pela barra.
Como um temporal. Ou como
certas palavras ainda não inventadas,
certas posições na guitarra
que o tocador não conhecia.
A tua nudez inquieta-me. Abre o meu corpo
para um lado misterioso e frágil.
Distende o meu corpo. Depois encurta-o e tira-lhe
contorno, peso. Destrói o meu corpo.
A tua nudez é uma violência
suave, um campo batido pela brisa
no mês de Janeiro quando sobem as flores
pelo ventre da terra fecundada.
Eu desgraço-me, escrevo, faço coisas
com o vocabulário da tua nudez.
Tenho «um pensamento despido»;
maturação; altas combustões.
De mão dada contigo entro por mim dentro
como em outros tempos na piscina
os leprosos cheios de esperança.
E às vezes sucede que a tua nudez é um foguete
que lanço com mão tremente desastrada
para rebentar e encher a minha carne
de transparência.
Sete dias ao longo da semana,
trinta dias enquanto dura um mês
eu ando corajoso e sem disfarce,
ilumindo, certo, harmonioso.
E outras vezes sucede que estou: inquieto.
Frágil.
Violentado.
Para que eu me construa de novo
a tua nudez bascula-me os alicerces.
Fernando Assis Pacheco, em “A Musa Irregular”
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Vieste como um barco carregado de vento, abrindo
feridas de espuma pelas ondas. Chegaste tão depressa
que nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste
o tempo de iludires a arquitectura fria do estaleiro
onde hoje me sentei a perguntar como foi que partiste,
se partiste,
que dentro de mim se acanham as certezas e
tu vais sempre ardendo, embora como um lume
de cera, lento e brando, que já não derrama calor.
Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e não existe no mundo cegueira pior do que a minha:
o fio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam
no cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos barcos. Dizem-me os seus passos
que vale a pena esperar, porque as ondas acabam
sempre por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei
que o meu mar está cercado de litorais, que é tarde
para quase tudo. Por isso, vou para casa
e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.
Maria do Rosário Pedreira em ‘O Canto do Vento nos Ciprestes’
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É a minha herança: o sorriso,
o azul de uma pedra branca.
Posso juntar-lhe, ao acaso da memória,
um ramo de madressilva inclinado
para as abelhas que metodicamente fazem
do outono o lugar preferido do verão,
um melro que deixou o jardim público
para fazer ninho num poema meu,
um barco chamado Cavalinho na Chuva
à espera de reparação no molhe da Foz.
Deve haver mais alguma coisa,
não serei tão pobre, cometemos sempre
a injustiça de não referir, por pudor,
coisas mais íntimas: um verso de Safo,
traduzido por Quasimodo, a mão
que por instantes nos pousou no joelho
e logo voou para muito longe,
as cadências do coração,
teimoso em repetir que não envelheceu.
Eugénio de Andrade
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a espuma adormece na areia
o cansaço de tanto andado
uma gaivota deixa o bando
primeiro passo para a liberdade
ao longe um barco acena
promessas de viagens a fazer
no céu uma nuvem brinca com o sol
e eu perco-me de tanto infinito
A.H. Cravo
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Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz
não me fazem ver que a luta é pelo meu país
Eu não quero pagar depois de tudo o que dei
não me fazem ver que fui eu que errei
.
não fui eu que gastei
mais do que era para mim
não fui eu que tirei
não fui eu que comi
não fui eu que comprei
não fui eu que escondi
quando estavam a olhar
não fui eu que fugi
não é essa a razão
para me quererem moldar
porque eu não me escolhi
para a fila do pão
este barco afundou
quando alguém aqui chegou
não fui eu que não vi
.
Eu não quero pagar por aquilo que não fiz
não me fazem ver que a luta é pelo meu país
Eu não quero pagar depois de tudo o que dei
não me fazem ver que fui eu que errei
.
talvez do que não sei
talvez do que não vi
foi de mão para mão
mas não passou por mim
e perdeu-se a razão
tudo o bom se feriu
foi mesquinha a canção
de esse amor a fingir
não me falem do fim
se o caminho é mentir
se quiseram entrar
não souberam sair
não fui eu quem falhou
não fui eu quem cegou
já não sabem sair
.
Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz
não me fazem ver que a luta é pelo meu país
Eu não quero pagar depois de tudo o que dei
não me fazem ver que fui eu que errei
.
meu sono é de armas e mar
minha força é navegar
meu norte em contraluz
meu fado é vento que leva
e conduz
e conduz
e conduz
Tiago Bettencourt
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O Douro é um rio de vinho
que tem a foz em Liverpool e em Londres
e em Nova-York e no Rio e em Buenos Aires:
quando chega ao mar vai nos navios,
cria seus lodos em garrafeiras velhas,
desemboca nos clubes e nos bares.
O Douro é um rio de barcos
onde remam os barqueiros suas desgraças,
primeiro se afundam em terra as suas vidas
que no rio se afundam as barcaças.
Nas sobremesas finas, as garrafas
assemelham cristais cheios de rubis,
em Cape-Town, em Sidney, em Paris,
tem um sabor generoso e fino
o sangue que dos cais exportamos em barris.
As margens do Douro são penedos
fecundados de sangue e amarguras
onde cava o meu povo as vinhas
como quem abre as próprias sepulturas:
nos entrepostos dos cais, em armazéns,
comerciantes trocam por esterlino
o vinho que é o sangue dos seus corpos,
moeda pobre que são os seus destinos.
Em Londres os lords e em Paris os snobs,
no Cabo e no Rio os fazendeiros ricos
acham no Porto um sabor divino,
mas a nós só nos sabe, só nos sabe,
à tristeza infinita de um destino.
O rio Douro é um rio de sangue,
por onde o sangue do meu povo corre.
Meu povo, liberta-te, liberta-te!
Liberta-te, meu povo! – ou morre.
Joaquim Namorado
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As gaivotas. Vão e vêm. Entram
pela pupila.
Devagar, também os barcos entram.
Por fim o mar.
Não tardará a fadiga da alma.
De tanto olhar, tanto
olhar.
Eugénio de Andrade
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