A companheira
Setembro 19, 2015

Não te busquei, não te pedi: vieste.
E desde que eu nasci houve mil coisas
a que os meus olhos se deram com igual
simplicidade : o Sol, a manhã de hoje,
essa flor que é tão grácil que a não quero,
o milagre das fontes pelo Estio…
Vieste ( o Sol veio também, a flor,
a manhã de hoje, as águas…). Alegria,
mas calada alegria, mas serena,
entendimento puro, natural
encontro, natural como a chegada
do Sol, da flor, das águas, da manhã,
de ti, que eu não buscara nem pedira.

E o Amor? E o Amor? E o Amor?
-: Vieste.
Wherever

Sebastião da Gama

Plateia
Outubro 22, 2013

Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
a não ser conivente
na farsa do presente
posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
nem talvez a mais certa,
a da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
do que presta
e não presta
nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
quotidiana.
Esta comédia desumana
e triste,
que cobre de soturna maldição
a própria indignação
que lhe resiste.

Morte
MIGUEL TORGA   em  CÂMARA ARDENTE

Sacode as nuvens
Julho 30, 2013

Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos,
sacode as aves que te levam o olhar.
Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras.

Porque eu cheguei e é tempo de me veres,
mesmo que os meus gestos te trespassem
de solidão e tu caias em poeira,
mesmo que a minha voz queime o ar que respiras
e os teus olhos nunca mais possam olhar.

rosado

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN,  em  CORAL

Ondas
Março 2, 2010

As ondas de partida e de chegada,

sozinhas, isoladas, vão correndo.

Alguém as quer deter, água vazia

de projectos, de vida entressonhada?

Alguém as colhe, prende, acarinha,

as encerra num lago infinito?

Alguém quer conhecer a sua lenda,

a mensagem que trazem escondida?

Não. Elas morrem ou voltam para trás,

de encontro à sua sina impregnada

no vai-e-vem constante que as assombra…

Diana Sá

Balada de sempre
Maio 8, 2009

Espero a tua vinda,

a tua vinda,

em dia de lua cheia.

Debruço-me sobre a noite

inventando crescentes e luares.

Espero o momento da chegada

com o cansaço e o ardor de todas as chegadas.

Rasgarás nuvens, estradas,

abrindo clareiras

nas sedes e nas ciladas.

Saltarás por cima dos mares,

de planícies e relevos

– ânsia alada

no meu desejo imaginada.

sem-titulo3

azul

Mas…

enquanto deixo a janela aberta

para entrares,

o mar,

aí além,

lambe-me os braços hirtos, braços verdes,

algas de sonho,

… e desenha ironias na areia molhada.

 

Fernando Namora