Versos
Setembro 27, 2020
Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Pedaços de sorriso, branca espuma,
gargalhadas de luz, cantos dispersos,
ou pétalas que caem uma a uma…
.
Versos!… Sei lá! Um verso é o teu olhar,
um verso é o teu sorriso e os de Dante
eram o teu amor a soluçar
aos pés da sua estremecida amante!
.
Meus versos!… Sei eu lá também que são…
Sei lá! Sei lá!… Meu pobre coração
partido em mil pedaços são talvez…
.
Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Meus soluços de dor que andam dispersos
por este grande amor em que não crês…
Florbela Espanca
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e o outro silêncio enquanto o som repousa:
desfez-se o seu rebordo numa espuma.
de que sombra dos sons se faz a rosa?
da matéria das sombras? de nenhuma?
.
de que fosco murmúrio, cristal, bruma?
de que espirais de noite vagarosa?
do coração desfeito? ou não costuma
a luz gravar-se em sombras numa lousa?
.
coração rouco, o coração, falhada,
a voz vinda do vento se desate
num ramo de penumbras, descontínuo,
.
o mundo passe a ser feito de nada,
só de efémeras rosas a rebate,
como gritos de sangue no destino.
Vasco Graça Moura
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Deixarei vento trazer areia molhada
moldando dunas sobre a praia peito
lençóis marinhos de bruma salgada
cobrindo-me vagas em húmido leito
.
Deixarei o sol aquecer a azul manta
brilho líquido sobre ninho aquático
cobertas de espuma brancura tanta
onda em fúria doce marear estático
.
Deixarei o céu fazer-se em mim mar
vaga mais rebelde possa acontecer
todos os sentidos me deixe libertar
em onda gigante na praia eu morrer
.
Vento chuva como lágrimas maresia
na morna loucura desta praia deserta
possam murmúrios mar ser sinfonia
.
A praia sentida num olhar imensidão
Vaga uma a uma murmura secreta
Mar adentro em mim húmida solidão
Ana Bárbara de Santo António
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Os meus passos de criança não deixavam pegadas,
a tua mão de areia e de espuma
atraía-me para o teu seio
e eu partia, numa braçada confiante
em direcção ao azul dos gritos das gaivotas,
esse azul reluzente ao nível dos olhos
que me chamam sempre mais longe
em busca da vaga que seria enfim minha.
Hoje olho-te, mar,
e lembro-me das lágrimas vertidas,
do sal amargo do regresso,
da tua cor cambiante
que me traz o esquecimento
e eu permaneço lá, apaziguada e feliz,
a olhar a maré do presente
que já não é para mim o chamamento
da tua mortal imensidão.
Isabel Meyrelles
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a espuma adormece na areia
o cansaço de tanto andado
uma gaivota deixa o bando
primeiro passo para a liberdade
ao longe um barco acena
promessas de viagens a fazer
no céu uma nuvem brinca com o sol
e eu perco-me de tanto infinito
A.H. Cravo
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Uma após uma as ondas apressadas
enrolam o seu verde movimento
e chiam a alva ‘spuma
no moreno das praias.
.
Uma após uma as nuvens vagarosas
rasgam o seu redondo movimento
e o sol aquece o ‘spaço
do ar entre as nuvens ‘scassas.
.
Indiferente a mim e eu a ela,
a natureza deste dia calmo
furta pouco ao meu senso
de se esvair o tempo.
.
Só uma vaga pena inconsequente
pára um momento à porta da minha alma
e após fitar-me um pouco
passa, a sorrir de nada.
Ricardo Reis em “Odes”
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Ânsia
Janeiro 20, 2015
Não me deixem tranquilo
não me guardem sossego
eu quero a ânsia da onda
o eterno rebentar da espuma.
As horas são-me escassas:
dai-me o tempo
ainda que o não mereça
que eu quero
ter outra vez
idades que nunca tive
para ser sempre
eu e a vida
nesta dança desencontrada
como se de corpos
tivéssemos trocado
para morrer vivendo.
Mia Couto
em “Raiz de orvalho e outros poemas”
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Espelho
Julho 22, 2014
Às vezes, queria ter apenas uma palavra
para te ver, tão leve como a flor, ou
tão doce como o amor; queria saboreá-la,
como se fosse um torrão – ou dizê-la
.
como fácil suspiro, sem dor nem tristeza.
De outras vezes, queria envolvê-la numa
espuma de frases, escondê-la sob a névoa
do verso, ou atirá-la ao vento que a
.
confundisse com a mais branca nuvem.
Mas essa palavra só existe porque diz
o que és, quando a digo; e se a não
.
digo, também o silêncio se transforma
em palavra, para que o espelho do poema
se abra, e nele o teu rosto me sorria.
Nuno Júdice
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Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.
Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.
Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.
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Nada podeis contra o amor,
contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.
Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis.
E é tão pouco.
Eugénio de Andrade
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