Astros
Janeiro 27, 2012
Aprendiz de avessos,
colhi lição de quem nada ensina
senão o talento de ser sem querer.
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A chuva me ensinou telhados
e anoiteci nas letras de um livro.
.
A pedra me explicou a morte
no passo antecipado sobre a lápide.
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Num mundo em que amar
se faz de fúrias pequenas e ódios perenes
em ti derramei meu corpo
para habitar a sombra da água.
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Não importa quem dentro de mim respira :
o amor é a noite
iluminando o relâmpago.
E eu não saberei nunca viver
de tanto te sonhar.
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Como um Sol
que apenas existe
na sua própria ardência,
eu sou só amando.
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A minha luz é um luar
à procura de uma outra Lua.

Mia Couto
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por noites de insónia e de alcatrão
por laranjais e lábios ressequidos
pelo desespero na voz e escuridão
isto vai caro amigo (…)
pelo cabo axial que liga a nossa esperança
pela luz dos cabelos pelo sal
pela palavra remo pela palavra ódio
isto vai caro amigo (…)
pelos carris do medo pelas árvores
pela inocência e fome pelos perigos
pelos sinais fraternos pelas lágrimas
isto vai caro amigo
pela dureza do espaço
e em jardins falsíssimos
isto vai caro amigo
João Rui de Sousa Ça ira

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Cuéntame cómo vives;
dime sencillamente cómo pasan tus días,
tus lentísimos odios, tus pólvoras alegres
y las confusas olas que te llevan perdido
en la cambiante espuma de un blancor imprevisto.
Cuéntame cómo vives;
ven a mí, cara a cara;
dime tus mentiras (las mías son peores),
tus resentimientos (yo también los padezco),
y ese estúpido orgullo (puedo comprenderte).
Cuéntame cómo mueres;
nada tuyo es secreto:
la náusea del vacío (o el placer, es lo mismo);
la locura imprevista de algún instante vivo;
la esperanza que ahonda tercamente el vacío.
Cuéntame cómo mueres;
cómo renuncias -sabio-,
cómo -frívolo- brillas de puro fugitivo,
cómo acabas en nada
y me enseñas, es claro, a quedarme tranquilo.
Gabriel Celaya
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Não posso adiar o amor
.
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
.
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
.
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
.
Não posso adiar o coração

António Ramos Rosa
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