Amor, tenho saudades de outra vida
feita só de mil dias transparentes :
não te esqueças de mim se vires perdida
esta voz nas palavras mais ausentes.
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Porque é perto da morte que escrevemos,
cada verso contém uma ameaça :
e a ternura maior que nos dizemos
é feita de penumbra fria e baça.
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Se a voz se dá no verso e na medida
é o medo, meu amor, mais que a vontade :
o verso nada pode contra a vida ;
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sabê-lo é a nossa liberdade.
É o medo que nos versos esconjuro
como riso vibrando no escuro.
Luís Filipe Castro Mendes