Este infinito amor de um ano faz,
que é maior do que o tempo e do que tudoeste amor que é real, e que, contudo
eu já não cria que existisse mais.Este amor que surgiu insuspeitado
e que dentro do drama fez-se em paz
este amor que é o túmulo onde jaz
meu corpo para sempre sepultado.Este amor meu é como um rio; um rio
noturno interminável e tardio
a deslizar macio pelo ermo.E que em seu curso sideral me leva
iluminado de paixão na treva
para o espaço sem fim de um mar sem termo.Vinicius de Moraes em “P’ra viver um grande amor”
Montevidéu, 1959