Há um pequeno sismo em qualquer parte
ao dizeres o meu nome.
Elevas-me à altura da tua boca
lentamente
para não me desfolhares.
Tremo como se tivera
quinze anos e toda a terra
fosse leve.
Ó indizível primavera!
Eugénio de Andrade
Tu deste-me a alegria deste dia,
deste-me a brisa, o sonho e o amor…
Deste-me, enfim, a tua companhia
e afastaste de mim o tédio e a dor.
No meu silêncio, amor, ouço os teus passos
e aperto as tuas mãos em pensamento,
e o tempo pára, em beijos e abraços,
e o tempo pára, amor, neste momento.
…
E a distância real que outrora havia
desliza como areia entre os meus dedos.
Eu já não estou aqui, nem tu além.
…
E não sei se é noite ou será dia.
Fitando o teu olhar de mil segredos,
és tu, vivendo em mim, e mais ninguém!
…
Maria Aguiar Marçalo
Crescem as flores no seu dever biológico,
e as cores que patenteiam, por sua natureza,
só podem ser aquelas, e não outras.
Vermelhas, amarelas, cinza, fogo,
lilases, carmesins, azuis, violetas, assim, e só assim,
tudo conforme a sua natureza.
Ásperas são as folhas, macias, recortadas
ou não, tudo conforme ;
e o aprumo como tal,
ou rasteiras, ou leves, ou pesadas,
tudo no seu dever,
por sua natureza.
…
É como os animais.
Em cada qual, por sua natureza,
todo o dever se cumpre.
Comem, dejectam, dormem,
fazem amor nas horas competentes,
lutam, caçam, agridem,
rosnam à lua, trinam, assobiam,
escondem-se, espreitam, fogem, amarinham,
dançam, mudam de pele, agacham-se, disfarçam-se,
tudo conforme a sua natureza.
…
Assim eu penso, e amo, e sofro, e vou andando.
Tudo conforme a minha natureza.
António Gedeão
Mais que um simples flerte
Angustia que brota do celular inerte
Relembrando palavras
Galanteios e gracejos trocados
Amainando lembranças
Remoçando sentidos e sentimentos
Esquecidos
Tragados pelo cotidiano
Homem e mulher conectados pela esperança.
Mensagens virtuais, fugazes
Aquecem corações partidos
Refeitos na eminência da paixão
Tramada no puro desejo
Intentando a felicidade
Natural caminho para a
Saudade.
Saudade que aflora e enternece a esperança.
…
Wagner Ricardo dos Santos
As ondas de partida e de chegada,
sozinhas, isoladas, vão correndo.
Alguém as quer deter, água vazia
de projectos, de vida entressonhada?
…
Alguém as colhe, prende, acarinha,
as encerra num lago infinito?
Alguém quer conhecer a sua lenda,
a mensagem que trazem escondida?
…
Não. Elas morrem ou voltam para trás,
de encontro à sua sina impregnada
no vai-e-vem constante que as assombra…
…
Diana Sá