Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que
se fechar os olhos ao abri-los ela não mais estará
presente com seu sorriso e suas tramas.
Que ela surja, não venha; parta, não vá
e que possua uma certa capacidade de emudecer
subitamente e nos fazer beber o fel da dúvida.
Oh, sobretudo que ela não perca nunca, não importa
em que mundo,não importa em que circunstâncias,
a sua infinita volubilidade de pássaro;
e que , acariciada no fundo de si mesma
transforme-se em fera sem perder sua graça
de ave; e que exale sempre o impossível perfume;
e destile sempre o embriagante mel; e cante sempre
o inaudível canto da sua combustão;
e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
do efémero; e em sua incalculável imperfeição
constitua a coisa mais bela e mais perfeita
de toda a criação inumerável.
Vinicius de Moraes